4.18.2009

O Moinho e o Nocturno No. 2, Op. 9 in E Flat Major


ssshhh. deixa-me só ouvir isto. É de noite cá em casa e estou sozinha. E de noite as coisas sentem-se de outro jeito. Um jeito de quem não tem pressa e que está no único sítio onde quereria estar e a fazer a única coisa que quereria fazer. Desliguei a televisão cedo onde passava imagens anteriores a mim e que imagem sim imagem sim me faziam embaciar os olhos e aqueciam o meu nariz. E meu nariz está sempre frio. Nariz e mãos. Então desliguei-a, dei um beijinho a Amelie que já dorme há muito e aqueci água no bule que lavei há cinco dias que estava cheio de marcas por fora porque só o uso para aquecer água. Lavei os dentes e levei o bule para cima e deitei a água a ferver no bidé branco do fundo da casa de banho. Juntei um pouco de água fria porque estava mesmo muito quente. A água quente demora muito tempo a chegar lá acima por isso uso o bule. E descalçei-me e pus lá os pés. E encostei a cabeça aos joelhos e fechei os olhos. Senti a cabeça flutuar como se durante o dia inteiro alguém e tivesse estado a apertar as bochechas e a compactar-me o corpo inteiro para caber numa caixa com metade do meu tamanho e de repente me largaram, como fazemos aos balões quando os deixamos escapar por entre os nossos dedos e boca depois de o encher. Depois fui ao armário e peguei num dos tantos cremes que me deram que dizia: Crème Corps Sorbet Verveine Agrumes. Cheira mil vezes melhor do que soa. Agora vou dormir.

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