Vou representar uma bêbeda
Que vende os filhos
Em Paris, no tempo da Comuna,
Tenho só cinco frases.
Mas também tenho que caminhar rua acima.
Vou andar como alguém liberto,
Uma pessoa que, além do álcool,
Ninguém quis libertar, e hei-de-
-me voltar, como os bêbedos que receiam
Que os persigam, hei-de voltar-me
Para trás para o público.
Examinei as minhas cinco frases como documentos
Que se lavam com ácidos, para ver se por baixo das
letras bem patentes,
Não há ainda outras.
Direi cada uma delas
Como um ponto de acusação
Contra mim e contra todos os que me olhem.
Se não tivesse ideias então pintava-me
Simplesmente como uma velha bêbeda
Depravada ou doente, mas eu vou entrar em cena
Como uma mulher bela que foi destroçada,
De pele amarela, outrora macia, agora devastada
Outrora apetecível, agora um horror tal
Que cada um pergunte: Quem
Foi que fez aquilo?
Bertolt Brecht