10.03.2009

Ela sabia que ele ia chegar atrasado. Chegava sempre. Era uma espécie de marca pessoal que ele se recusava a eliminar. Sabia que a chateava, que a deixava furiosa porque ela, ela odiava atrasos. E ele sabia-o. Mas por alguma razão, e talvez nem ele soubesse bem qual fosse, sentia prazer em vê-la lixada, como se sentisse que não pudesse quebrar essa constante pois, se o fizesse, deixaria de sentir a fantástica sensação de controlo e que ela simplesmente não poderia reverter. E quando finalmente chegou não disse nada. Deu-lhe um beijo, olhou para ela e disse que estava cheio de fome. Ela só sentia o sangue a aflorar à cara, ficando ainda com mais calor que os 36 graus que se sentiam permitiam. Ele sabia quais botões puxar e tirava prazer disso, questionando-se ocasionalmente porquê mas sem se importar. E ela também sabia disso. E por o saber tão bem é que apenas disse "daqui a uma hora tenho ir, a minha mãe faz anos. Decide-te", dando-lhe assim a sensação de controlo, faca de dois gumes que agora era usada contra ele. Havia naquela relação todo um açambarcamento de sentimentos já tão intrínseco que era impossível de desfazer. Como um nó de marinheiro. Havia estratégias. E eles sabiam-no.

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